Em 1995 lembro-me de estar em frente da televisão a ver a final do campeonato do mundo de Rugby. Em pleno Ellis Park de Joanesburgo, enfrentavam-se a selecção da casa e a poderosa Nova Zelândia (por quem eu torcia!).
O jogo foi um misto de monótono e irritante, muito táctico e decidido pelos dois aberturas.
No final do jogo, o capitão Francois Pienaar recebeu das mãos de Nelson Mandela a taça de campeão do mundo. Tudo normal…nem por isso….
Durante os mais de 40 anos que durou o apartheid, os Springboks eram o símbolo do regime de supermacia branca. Os sul-africanos afirmavam ter o melhor rugby do mundo mas não lhes era permitido competir. Eram venerados por uma minoria e odiados pela maioria.
Com a queda do apartheid e a organização do campeonato do mundo, o governo de Pretória pretendia unir a nação criando um sentimento de ligação a uma equipa que tinha reais chances de ganhar.
Contando apenas com um jogador negro, os sul-africanos não conseguiram conquistar o público. Ainda eram a equipa racista dos anos anteriores.
Todavia, naquela tarde, Nelson Mandela resolveu ir apoiar a sua equipa…e mais….usou uma camisola dos Springboks, a odiada camisola dos Springboks com o número do capitão, emocionando uma nação e fazendo daquele jogo e daquela vitória o momento de reunião e de reconciliação de uma nação sul-africana que não passava de uma manta de retalhos…
(claro que a comida estragada que deram aos neo-zelandeses no hotel também não terá prejudicado….)
Hoje, dia 20 de Novembro, a presença (hipotética) de Mandela inspirou os sul-africanos para uma vitória sobre a Inglaterra (com umas decisões sui generis da arbitragem).
Não se vendo Mandela na TV, ficou a imagem dos príncipes William e Harry, de Sarkozy, Gordon Brown e Thabo Mbeki, para dar uma ideia da importância dada a este evento.
No final, quando o Presidente Sarkozy se preparava (em grande estilo) para entregar a taça ao capitão Jon Smit. Este pediu que o presidente sul-africano, que se encontrava alguns metros atrás, fosse também receber a taça, simbolizando a entrega da taça a toda a nação sul-africana. Foi emocionante.
Não tendo recebido medalhas, Mbeki foi a grande figura das fotos pois ficou a comemorar junto aos jogadores e foi inclusive levantado pelos Sprinboks para que podesse ficar com a taça na mão. O rugby tem um espírito muito especial….
Pus-me a pensar se Cavaco Silva (ou Sócrates, Barroso, Sampaio) ia comemorar com os jogadores e dar largas a toda a sua alegria ou se ficariam com aquela pesudo-pose de estado, insensíveis a tudo, para não estragar o árduo trabalho das suas máquinas de marketing.
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